[caption id="attachment_730" align="alignnone" width="750"] Crédito: ZNews24[/caption]Apenas uma nota para tentar perceber algumas coisas que, pelo menos a mim, me fazem muita confusão...
Em situações como a tragédia da Tailândia, muitas vezes as pessoas mais famosas, e com fortes possibilidades financeiras (algo por vezes não relacionado) são acusadas de nada fazerem para lá da mera retórica de circunstância.
Elon Musk colocou a sua The Boring Company a pesquisar formas de conseguir ajudar as 12 crianças e o treinador que se encontravam na gruta. Ainda no decorrer das operações, Musk e a Boring Company propuseram uma solução para auxiliar as operações. Não sou técnico para avaliar se seria uma solução viável ou não, mas atendendo ao facto de que parece terem existido contactos com as equipes no terreno, pelo menos esse conhecimento foi passado para a realização do protótipo, que chegou a ser deslocado para o terreno, levado pelo próprio Elon Musk.
Após a colocação deste trabalho à disposição, Musk foi basicamente alvo de uma campanha de insultos no Twitter, que não parou após a afirmação de que esta solução estaria à disposição para eventuais situações de emergência futura, de carácter similar.
Há sempre no espaço, uma relatividade nas emoções...da Tailândia veio o calor humano que me enterneceu o coração. Da minha rua, um ameaço de incêndio no meu prédio fez-me vacilar de receio. Pelo meio, o tempo perde o sentido e tudo se mistura na humanidade de sermos seres que sempre caminharam, e caminham, num mundo fluído, por entre o dia ou a noite, a alegria ou a tristeza, a lágrima ou o riso. Um Yin Yan eterno em nós se movimenta em equilíbrio, apesar de muitas vezes cedermos um pouco mais ao lado pesado da energia que nos rodeia.
Mas ainda assim, no final do dia, quando o trabalho se esvai na última luminosidade de um verão envergonhado, o efeito do pequeno susto se vai perdendo, e a a saúde do momento já vai pedindo férias, é mesmo da Tailândia que vem um pensamento de paz, na certeza que todas aquelas crianças, e o seu treinador, já se encontram abraçados pela luz do dia...e assim deito a cabeça, respirando bem fundo, e deixando a alma esboçar-me um pequeno sorriso na face. Talvez fosse mais fácil carregar já o amanhã com uma qualquer carga negativa, de um qualquer assunto complicado. Mas hoje, só por hoje, tudo se resolveu, e no momento, neste momento, sorrio e tenho esperança dentro de mim. Uma esperança que vai bem fundo, bem para lá das rotinas dos dias...mais do que me fazer sentir bem, fez-me acreditar em todos nós...na humanidade, em mim, em ti. Num mundo melhor. Porque simplesmente não faz sentido sentir-me bem, sem acreditar, e trabalhar, para todos e com todos, para um mundo melhor. Por entre a rotina dos dias. Na via do Caminho do Meio. No horizonte das dez mil coisas.
E muito obrigado a todos pelas vossas mensagens. Foi apenas o susto, tudo está bem :)
Acabei agora de trabalhar. Ao ligar a televisão, apenas o tom dos jornalistas parecia deixar antever que algo de fantástico tinha acontecido. Fiquei assim a saber que a Alemanha tinha sido eliminada do Mundial de Futebol, que em Berlim era a tristeza que passeava pelas ruas numa (talvez) solarenga tarde, e que existia um certo tom de contentamento geral dos homens que habitualmente relatam estas coisas da bola. Não é, de facto, coisa que consiga perceber muito bem.
Toda esta reação em torno do gigante caído retrata um pouco de nós mesmos...na rotina dos dias, vivemos uma tão intensa quanto relativa (ou ausente) positividade que se respira no que de artificial nos rodeia, alimentando todo um conjunto de objetivos em que nunca pensámos, mas que com toda a certeza vamos conseguir atingir se muito trabalharmos, abdicando dessa "entidade negra" chamada zona de conforto (aquela a que por vezes temos tanta necessidade de voltar, para sarar as nossas feridas), para transcendermos o estado presente das nossas vidas...as fórmulas rodeiam-nos, e os resultados da sua aplicação multiplicam-se em ainda mais fórmulas, num caminho de nenhures, rumo ao sucesso...também aí reside uma parte importante das mecânicas nacionalistas que vão emergindo no nosso tempo, e que nada mais são do que o apoderar por parte de alguém destas dinâmicas coletivas, algumas vezes aplicando-lhes um símbolo. Mas a isso voltarei outro dia.
Neste processo mental de luta permanente, algures entre David e Golias, em cujo triunfo do underdog é considerado ao nível pessoal, vamos esquecendo como se erra, e como refletir nesses erros...esquecemos igualmente de como a vida nos brinda com a sua ciclicidade, que nos banha nas ondas de um mar interior que gostamos de ver ilustrado no silêncio da praia. Saber observar esse além, na natureza que nos rodeia e na humanidade que nela desponta, é o que nos faz evoluir, sonhar, pensar e amar um mundo melhor...sempre renovando-se, e levando-nos com ele.
Não gosto de saudosismos. Nunca gostei, e da vivência no passado apenas guardo a memória de não evoluir. Gosto, contudo, de falar do passado, porque dessa viagem nascem grandes lições para o caminho, de como o pé sabe acariciar o chão, lançando o próximo passo no universo.
Mas hoje, mais um aniversário passou. Mais um dia, mais um passo. Mais um silêncio encontrado nos horizontes que nele se abrem...presente que se recusa tornar passado, que insiste em tornar-se futuro.
És feito de um tempo que se renova, senhor de um futuro que apenas no teu silêncio constróis.
Desde que regressei do Brasil que não tive um momento de verdadeiro descanso, tal como tenho neste final de semana. Foram duas semanas intensas, e que apenas agora me permitem simplesmente deitar a cabeça e fechar os olhos, ou trabalhar nas novidades no meu blog, que vão avançando a um ritmo estável. Espero já este fim de semana, ou no próximo, iniciar a distribuição das mesmas (com alguns ajustes iniciais que possam ser necessários).
Duas formas de desligar...de descansar e de caminhar...Crédito da imagem: Paulo Heleno
Como todo o mundo, fui apanhado de surpresa pelo falecimento de Bourdain. Soube através de um tweet da CNN, e imediatamente me invadiu um sentimento de vazio, nunca preenchido pelo constante fluxo de informação que se seguiu. Sendo fã dos seus livros, da sua personalidade, duas coisas me encantavam especialmente. Em primeiro lugar, a postura de enfant terrible num mundo tão artificial quanto o da alta cozinha, onde impera a ditadura da imagem e o vazio da essência. Bourdain dava a esse mundo um colorido tão característico da sua personalidade sempre desperta, tão inquietante como inquieta, tão irreverente como criativa, um predicado apenas reservado aos génios, uma genialidade apenas reservada aos espíritos livres, que sentem e refletem o mundo que observa, os caminhos que passam, os céus que os acompanham.
Mas a principal qualidade que apreciava em Bourdain era a sua visão global do mundo, baseada nos seus aromas, nos seus sabores, e na forma como os explanava nas suas viagens. Bourdain era o protótipo do viajante de que tanto falo, viajando pelo mundo tão livre quanto o horizonte do seu sentir. Apesar da sua fama, com todos falava, com todos comia, sempre com a sua natural curiosidade, fosse no fino restaurante ou na roulotte de rua. E depois de tudo, de respirar e de usufruir de cada viagem e de cada ambiente, era imensa a forma como, qualquer viajante, sabia voltar...as suas entrevistas, as suas aparições públicas, eram acontecimentos para serem ouvidos e sentidos. Bourdain contava as suas experiências, o que sentia com elas e as lições que delas tirava, de uma forma tão profunda quanto simples. Sabia voltar, transmitindo algo, dando a conhecer um pouco mais do mundo que na visão dele era unido na extraordinária diversidade dos seus sabores, das suas cores, das suas sensações. Deixava-nos a todos um pouco mais ricos, na partilha da sua experiência, para depois voltar a partir.
Enquanto toda a informação do seu falecimento ia desfilando, dei por mim a pensar que Bourdain iria adorar conhecer o restaurante nordestino que me indicaram perto do local onde me encontrava, em S. Paulo, e que à boa cozinha tradicional adicionava a cultura nordestina e a simpatia dos seus empregados . E com toda a certeza, a simpatia dos convites que tive para experimentar pratos típicos de cozinha brasileira em casa de colegas, não lhe passaria despercebida. Embora apenas tenha tido contacto com o seu trabalho nos últimos anos, não consigo deixar partir um sentimento de perda por alguém que tinha essa forma tão simples e global de sentir o mundo, com a qual me identifico...simplesmente desfrutar, caminhar, conhecer, seja na chuva de Londres, nos pequenos povoados dos Pirinéus, ou no sol de S. Paulo, e que me despertava uma certa figura de mentor. Se alguma lição Bourdain nos deixa é a de que, num mundo que vai ficando cada vez mais tenso nas suas dinâmicas geopolíticas, não devemos esquecer o que nos une enquanto humanidade, uma simplicidade construída por milhares de anos, revelada numa diversidade que a todos nos define. Esse é o nosso caminho. O único caminho. Trilhar esse percurso pode ser algo tão simples quanto apreciar o que nos rodeia de uma forma diferente, como nosso, independentemente da parte do mundo onde estejamos.
Descansa em paz, Anthony Bourdain. Obrigado pelo mundo que nos revelaste com as tuas viagens.
[caption id="attachment_688" align="alignnone" width="1080"] Crédito: Paulo Heleno[/caption]
Já com as malas em preparação para o retorno a Portugal, é altura de fazer um balanço. Nunca o viajante encara tristeza o voltar, mas também nunca parte sem fechar um pouco os olhos e sentir não apenas o que viveu, mas o que cresceu, e o que leva de novo para o seu ponto de partida.
Agradeço a forma como fui tratado no Brasil. Desde o diretor de empresa, até ao rapaz que tratava da minha roupa (um de muitos empregos que tem para ganhar a vida), todos me trataram de forma muito amável...não acho que, como algumas pessoas dizem, o povo brasileiro nos recebe com desconfiança...talvez assim o faça para quem para eles olha, e para a sua peculiar, e muito liberta forma de viver; um pouco por cima. Eu apenas recebi simpatia, excelentes experiências de diálogo sobre muitas temáticas mais ou menos profundas e, mais uma vez, tudo o que de fantástico a fantástica cidade tem para oferecer. Fiquei fã. Hei-de voltar.
Seja do ponto de vista profissional, seja do ponto de vista pessoal, estes (em conjunto) quase 5 meses foram marcantes. Em ambas as vertentes, ideias surgiram, decisões foram tomadas, novos caminhos foram definidos. Nas duas vertentes, o tempo ditará a forma delas se expressarem na minha vida, de uma forma natural, como quando surgiram na minha alma e na minha mente. De nada vale ficarmos sentados a pensar, deixando horas a fio passarem no silêncio de um tempo que, preso num espaço de uma divisão, se arrasta na vida...mais vale abrirmos os braços à experiência de viver, e sentir o vento passar por nós ao ritmo da liberdade do sentir...
Num mundo de pressas, confesso que desta vez sinto alguma ansiedade para o retorno, que já se vem manifestando há uma semana e pouco. Na bruma da minha vida profissional, já desponta Inglaterra, para onde me dirigirei um par de dias, dentro de aproximadamente uma semana/ uma semana e meia. Mas para já, é aproveitar o meu espaço, aquele espaço que faz de todos nós viajantes.
Apesar da greve dos camionistas aqui no Brasil ter afetado bastante o fluxo normal de carros em S. Paulo, durante a semana passada, esta imagem é a exceção que ilustra uma muito bonita manhã de Domingo. Ontem e hoje notou-se, pelo menos para já, um certo regresso à normalidade.
Apesar de, como já é conhecido de todos, não ser um adepto do futebol, não posso deixar de prestar aqui solidariedade à equipe profissional do Sporting Clube de Portugal, e aos jogadores e técnicos que foram, de forma bárbara, agredidos no centro de estágios do clube.
O futebol em Portugal chegou a um nível apenas previsto por todos, e simplesmente ignorado por todos. Nada a que não estejamos já habituados nas nossas vidas profissionais, ou mesmo nos ditâmes sociais que nos regem, mas que no futebol explode no potenciar das emoções, ao sabor do vácuo dos tempos modernos.
Pandora nunca negou ajuda para fechar a sua lendária caixa. Simplesmente, apenas nunca a teve...
A vida é feita de pequenos despertares. Cirúrgicos, eles chegam por vezes quando no sono saudamos a madrugada, ou no anoitecer desejamos a manhã. São silenciosos, por vezes impercetíveis. Mas no caminhar da vida, olhando para trás, podemos olhar para eles com um misto de alegria e paz, sorriso e gratidão, pelas experiências que deles obtemos no nosso viver.
Há cerca de duas semanas acordei especialmente motivado. De uma noite bem dormida nasceu a ideia de, dentro da minha esfera profissional, começar a abraçar as temáticas da Inteligência Artificial, do Machine Learning e do Deep Learning. Talvez possa parecer um cenário ridículo mas foi realmente assim que aconteceu, isto apesar de a ideia já me rondar há algum tempo, mais precisamente desde que comecei a sentir, com profunda acuidade, de que algo novo, em termos profissionais, deveria nascer em mim; isto apesar da minha ocupação atual. E bem vistas todas as situações, penso que será inevitável que os Sistemas Integrados de Gestão, independentemente do seu dimensionamento, caminhem para uma relação estruturalmente umbilical com, mais do que uma nova tecnologia, uma nova forma de encarar o trabalho, a sociedade, e o homem. Penso que a sua integração em novas visões multidisciplinares da empresa e da realidade sócio-económica contextual que a rodeia, definirá todo o nosso futuro. Depende de nós a forma como com ela lidamos, e depende nós a forma como ela se relacionará com o mundo onde nasce. Ainda assim, apesar de tudo, e numa visão futura, confesso que algumas dúvidas subsistem em mim sobre a forma como uma sociedade eminentemente tecnológica, lidará com a realidade filosófica deste momento, no momentâneo da humanidade face ao tempo...e quem bem me conhece sabe que neste pensamento, reside uma das raízes da minha motivação.
E explica-se assim o meu silêncio das últimas semanas. Porque quando inicio algo novo, são intensos os tempos dentro de mim, que me tornam num vazio intemporal que tudo absorve, num ideal utópico de saciedade que motiva sempre a aprendizagem real e diária.