A vida é feita de pequenos despertares. Cirúrgicos, eles chegam por vezes quando no sono saudamos a madrugada, ou no anoitecer desejamos a manhã. São silenciosos, por vezes impercetíveis. Mas no caminhar da vida, olhando para trás, podemos olhar para eles com um misto de alegria e paz, sorriso e gratidão, pelas experiências que deles obtemos no nosso viver.
Há cerca de duas semanas acordei especialmente motivado. De uma noite bem dormida nasceu a ideia de, dentro da minha esfera profissional, começar a abraçar as temáticas da Inteligência Artificial, do Machine Learning e do Deep Learning. Talvez possa parecer um cenário ridículo mas foi realmente assim que aconteceu, isto apesar de a ideia já me rondar há algum tempo, mais precisamente desde que comecei a sentir, com profunda acuidade, de que algo novo, em termos profissionais, deveria nascer em mim; isto apesar da minha ocupação atual. E bem vistas todas as situações, penso que será inevitável que os Sistemas Integrados de Gestão, independentemente do seu dimensionamento, caminhem para uma relação estruturalmente umbilical com, mais do que uma nova tecnologia, uma nova forma de encarar o trabalho, a sociedade, e o homem. Penso que a sua integração em novas visões multidisciplinares da empresa e da realidade sócio-económica contextual que a rodeia, definirá todo o nosso futuro. Depende de nós a forma como com ela lidamos, e depende nós a forma como ela se relacionará com o mundo onde nasce. Ainda assim, apesar de tudo, e numa visão futura, confesso que algumas dúvidas subsistem em mim sobre a forma como uma sociedade eminentemente tecnológica, lidará com a realidade filosófica deste momento, no momentâneo da humanidade face ao tempo...e quem bem me conhece sabe que neste pensamento, reside uma das raízes da minha motivação.
E explica-se assim o meu silêncio das últimas semanas. Porque quando inicio algo novo, são intensos os tempos dentro de mim, que me tornam num vazio intemporal que tudo absorve, num ideal utópico de saciedade que motiva sempre a aprendizagem real e diária.
[caption id="attachment_123" align="alignnone" width="1024"] Credit: Space X[/caption]
Como todo o mundo, assisti com um misto de admiração e alegria ao lançamento do Falcon Heavy. Numa ótica mais pessoal, juntou-se a este sentimento um certo revivalismo de alguém que sempre gostou muito de astronomia e da ciência astronáutica, e que sentia, desde o final da guerra fria e de alguns lançamentos ocasionais, falta desse imaginário infanto-juvenil, relacionado com a exploração espacial, preso num certo cinzentismo de uma rotina automática e circular em que a mesma se foi tornando. Não que ela não nos trouxesse a magia de cada vez melhor conhecermos a nossa real dimensão no universo (assim como a real consciência da mesma) mas...faltava algo.
Com o Falcon Heavy, a magia da exploração espacial renasceu. E por entre um ambiente geopolítico que evoca a dinâmica de blocos da guerra fria, onde nasceu e se desenvolveu num imemorial primeiro capítulo, renasce simbolizada do eterno Major Tom, o ícone da canção de Bowie...sim, oficialmente chama-se Starman, mas prefiro pensar que é o Major Tom que navega no espaço, transportando em si toda uma nova iconografia baseada no homem em vez do estado, na humanidade em vez do grupo, na conexão em vez dos conectados...a sua nave espacial já não é um símbolo de uma competição, mas de um engenho que mais que a visão de engenho humano e social de Elon Musk, transporta para o espaço o nome de um dos maiores génios que a humanidade, em toda a sua história, alguma vez conheceu, unidos por uma visão diferente, e alternativa do ser humano...Musk ao nível mundo, Tesla ao nível da eternidade.
Voltando à visão pessoal, o Falcon Heavy é também um símbolo de solidão, não com o significado mercantilista dos dias que correm, mas com a capacidade de interiormente discernir o que de mais vasto existe em nós, independentemente da distância e libertos dos grilhões do tempo...de que ainda vale a pena pensar o mundo e a humanidade no contexto da sua história, das lições aprendidas e dos horizontes alcançados por entre as pregas do espaço-tempo. Não sei se o Major Tom pensa nestas coisas no seu caminho para Marte. Gosto de pensar que sim, e de acreditar que quem nos guia pelo espaço nos mostra, de uma forma nova, o universo que todos nós vemos, o universo que desde sempre vive em nós.