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Omnia in Unum

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Escolhas

[caption id="attachment_761" align="alignnone" width="526"]37548031_2133014140060277_3199631961278644224_n Crédito: Insscuccato[/caption]

Hoje é dia do Amigo. Grato a todos os que têm partilhado a minha caminhada. Especialmente grato aos que já vêm de longe...ausentes da vista, presentes na alma.

Férias que passam...

[caption id="attachment_747" align="alignnone" width="1024"]120-felicidade Crédito: WGospel[/caption]

Há medida que as férias vão entrando na reta final, dou por mim a pensar que foram das mais agradáveis que tive nos últimos tempos. Sem longas deslocações (que o viajante ainda vai recuperando baterias), sem grandes exuberâncias, com as pessoas que comigo querem estar e com quem quero estar. Pelo meio, o degustar de boas refeições em paz, longas caminhadas na praia, por locais onde as pegadas são inexistentes, e as vozes se remetem ao silêncio enquanto a alma, essa se completa no nada...e um trabalho profícuo para dar corpo à vontade de retornar a atividades que em mim despertam uma profunda paz, pela forma como as amo e como me definem...um retorno que comecei a sentir e a desejar com muita intensidade, após um episódio intenso em termos de saúde, vivido ainda no Brasil.

E foi assim que a escrita voltou a ser uma companhia próxima, agora também aberta a temas e formatos que pouco ou nada ainda havia tentado...igualmente, vou-me iniciando nos podcasts, um tipo de expressão cuja descoberta me vai dando muito prazer, por entre uma limitação inicial de recursos e os takes falhados em cada episódio. Cada um deles possui um texto escrito, e posteriormente gravado, e ambos não se afiguram tão fáceis quanto possa parecer à primeira vista. O texto exige um maior equilíbrio entre a síntese e a minha forma natural, mais reflexiva de escrever, o que por agora não tem sido um exercício nada fácil. E a gravação coloca-me perante desafios muito divertidos, sendo um trabalho tanto de paciência como de aprendizagem (até para potenciar os poucos recursos). Ainda assim, faz-me feliz o facto de ainda sentir em mim um gosto em seguir caminhos e posturas diferentes das tendências vigentes, o que sinceramente já duvidava um pouco...nunca me revi na esmagadora maioria dos podcasts que ouvi, e assumo essa diferença no pressuposto de achar que uma mensagem não necessita de ser coreografada como um espetáculo de variedades para ser transmitida e entendida de forma eficiente. Não digo que a minha já o seja. Mas um caminho, qualquer que seja, tem a particularidade de se ir fazendo...caminhando...aprendendo passo a passo, sabendo evoluir com as lições dos erros encontrados. Por fim, regressar à fotografia é voltar a casa, trazido por uma paixão intensa, cheia de partidas e regressos, quase que assumindo uma dimensão de tragédia romântica...é voltar a uma forma muito particular de diálogo interior, imerso no silêncio com que a alma observa o mundo, e nele se dissolve numa paz que se traduz na forma quase orgânica com que se trabalha com uma máquina fotográfica (algo que não se consegue com um telemóvel), e se caminha pelo mundo que nos rodeia, movimentando-me de forma leve, mais lenta e profunda...o trabalho por agora tem sido mais de edição de material já existente, e há muito parado, mas o chamamento é forte, irresistível...

Naquela noite em S. Paulo, quando nada mais do que o silêncio habitava a cidade, e quando parecia que a cabeça, e um dos olhos, iam rebentar, sentei-me na cama e, pela primeira vez em algum tempo, e pensei na vida. Entre o que temos e o que julgamos ter, tudo fica difuso face à incerteza do momento. Nessa altura o tempo encurta...e muito, perante uma inevitabilidade que se sente eminente. Senti o mesmo quando há cerca de ano e meio tive o acidente de carro, apenas me lembrando daqueles últimos segundos, que se pareciam esvair rumo a algo inevitável...são esses segundos que nos dão a perceção da caminhada do nosso viver...ao contrário do senso comum, nenhum acontecimento, de forma automática, transmite-nos todas as lições que precisamos. Por entre as experiências vividas, subimos uma escada apenas nossa, nas inúmeras formas como ela se transforma e molda as experiências que vivemos na busca do equilíbrio, do desígnio que desejamos no nosso viver, nunca nos abandonando pelos diversos caminhos trilhados.

O meu dia agridoce

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Há sempre no espaço, uma relatividade nas emoções...da Tailândia veio o calor humano que me enterneceu o coração. Da minha rua, um ameaço de incêndio no meu prédio fez-me vacilar de receio. Pelo meio, o tempo perde o sentido e tudo se mistura na humanidade de sermos seres que sempre caminharam, e caminham, num mundo fluído, por entre o dia ou a noite, a alegria ou a tristeza, a lágrima ou o riso. Um Yin Yan eterno em nós se movimenta em equilíbrio, apesar de muitas vezes cedermos um pouco mais ao lado pesado da energia que nos rodeia.

Mas ainda assim, no final do dia, quando o trabalho se esvai na última luminosidade de um verão envergonhado, o efeito do pequeno susto se vai perdendo, e a a saúde do momento já vai pedindo férias, é mesmo da Tailândia que vem um pensamento de paz, na certeza que todas aquelas crianças, e o seu treinador, já se encontram abraçados pela luz do dia...e assim deito a cabeça, respirando bem fundo, e deixando a alma esboçar-me um pequeno sorriso na face. Talvez fosse mais fácil carregar já o amanhã com uma qualquer carga negativa, de um qualquer assunto complicado. Mas hoje, só por hoje, tudo se resolveu, e no momento, neste momento, sorrio e tenho esperança dentro de mim. Uma esperança que vai bem fundo, bem para lá das rotinas dos dias...mais do que me fazer sentir bem, fez-me acreditar em todos nós...na humanidade, em mim, em ti. Num mundo melhor. Porque simplesmente não faz sentido sentir-me bem, sem acreditar, e trabalhar, para todos e com todos, para um mundo melhor. Por entre a rotina dos dias. Na via do Caminho do Meio. No horizonte das dez mil coisas.

E muito obrigado a todos pelas vossas mensagens. Foi apenas o susto, tudo está bem :)

Regresso

[caption id="attachment_688" align="alignnone" width="1080"]34691012_2016658405250180_458745435410923520_o Crédito: Paulo Heleno[/caption]

Já com as malas em preparação para o retorno a Portugal, é altura de fazer um balanço. Nunca o viajante encara tristeza o voltar, mas também nunca parte sem fechar um pouco os olhos e sentir não apenas o que viveu, mas o que cresceu, e o que leva de novo para o seu ponto de partida.

Agradeço a forma como fui tratado no Brasil. Desde o diretor de empresa, até ao rapaz que tratava da minha roupa (um de muitos empregos que tem para ganhar a vida), todos me trataram de forma muito amável...não acho que, como algumas pessoas dizem, o povo brasileiro nos recebe com desconfiança...talvez assim o faça para quem para eles olha, e para a sua peculiar, e muito liberta forma de viver; um pouco por cima. Eu apenas recebi simpatia, excelentes experiências de diálogo sobre muitas temáticas mais ou menos profundas e, mais uma vez, tudo o que de fantástico a fantástica cidade tem para oferecer. Fiquei fã. Hei-de voltar.

Seja do ponto de vista profissional, seja do ponto de vista pessoal, estes (em conjunto) quase 5 meses foram marcantes. Em ambas as vertentes, ideias surgiram, decisões foram tomadas, novos caminhos foram definidos. Nas duas vertentes, o tempo ditará a forma delas se expressarem na minha vida, de uma forma natural, como quando surgiram na minha alma e na minha mente. De nada vale ficarmos sentados a pensar, deixando horas a fio passarem no silêncio de um tempo que, preso num espaço de uma divisão, se arrasta na vida...mais vale abrirmos os braços à experiência de viver, e sentir o vento passar por nós ao ritmo da liberdade do sentir...

Num mundo de pressas, confesso que desta vez sinto alguma ansiedade para o retorno, que já se vem manifestando há uma semana e pouco. Na bruma da minha vida profissional, já desponta Inglaterra, para onde me dirigirei um par de dias, dentro de aproximadamente uma semana/ uma semana e meia. Mas para já, é aproveitar o meu espaço, aquele espaço que faz de todos nós viajantes.

Cultura Geral

[caption id="attachment_666" align="alignnone" width="2000"]lista-de-livros-2000x1200 Crédito: Sandro Miguel[/caption]

Sou um espetador atento do Curso de Cultura Geral, da Anabela Mota Ribeiro, e mantenho o seu blog como um dos seguidos aqui no Omnia. Numa das minhas noites semanais de catarse da rotina dos dias, decidi aceitar o desafio dos 10 itens marcantes, na esfera pessoal, da minha relação com a cultura. Com as minhas desculpas à Anabela por me intrometer nestes desafios semanais que tanto aprecio ouvir, e que me fazem renascer num aconchegante e terno sentimento interior de caminhada, perpétua no silêncio da alma...assim, sem nenhuma ordem de importância em particular:

  1.  A minha viagem aos Pirinéus. Durante cerca de duas semanas, viver cores que nunca vi tão vivas, imersas na profundidade de um silêncio como nunca vivi, em altitudes a que nunca subi. Conhecendo ainda pessoas e culturas (nomeadamente a basca) de uma forma tão vivida.
  2. Ler Norwegian Wood, de Haruki Murakami. De vivenciar num livro tantas dinâmicas interiores já sentidas, de sentir, não orgulho, mas paz, e uma profunda gratidão, de já ter vivido algo tão puro, e ao mesmo tempo tão distante.
  3. Ter participado nas manifestações estudantis dos anos 90. Deixei nessa época parte de uma vida não destinada a viver, mas nelas encontrei outra vida de muito mais sentido e ativa. Nenhum ideal tem limites, muito menos os da ilusão moderna de que lutamos por ideais.
  4. Ler A Midsummer Night's Dream, de Shakespeare, e de achar que sim, viver pode ser uma experiência mágica...na morte interior renasce sempre uma luz imemorial, que brilha em nós independentemente do que lhe chamamos. Eu gosto de lhe chamar criança.
  5. Conhecer a história da Astronomia, e conhecer o céu noturno. Desde pequeno que não meço o mundo como a comum das pessoas, nem a alma como a dos incomuns imortais. Algures no meio caminho na magia de um universo que se espelha, e renova em mim, em todos.
  6. As caminhadas na praia...daquelas que duram kilometros e que nos levam muitas vezes a locais que apenas julgamos existir longe...por onde as pegadas se apagam da areia e apenas somos o som do mar que nos desvanece em puro pensamento...meditar é isso...é ser som de mar em areias de silêncio.
  7. Fotografar. Sentir o mundo como a visão de um Eu profundo, que se manifesta no preto e branco da essência de viver.
  8. Vivenciar Nighthawks, de Edward Hopper. Num bar unem-se mundos em pessoas que se encontram...sou cada uma delas, sou apenas quem as procura, sou apenas quem as deixou...
  9. Bach, interpretado por Yo-Yo Ma. No final do dia, do que teve de bom e de mau, de perfídia ou de humildade, do apenas vácuo de interesse, ao interesse intenso e pleno, a suite nº1 é sempre a porta que na noite em mim se abre...não consigo pensar em mais nada, quando nela me dissolvo em essência de nada.
  10. Abraçar, viver, sentir o meu Bonsai, e com ele aprender... partilhar com ele o meu mundo, e ser grato por ele caminhar comigo.
 Crédito da Imagem: SandroMiguel.com