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Omnia in Unum

Omnia in Unum

Férias que passam...

[caption id="attachment_747" align="alignnone" width="1024"]120-felicidade Crédito: WGospel[/caption]

Há medida que as férias vão entrando na reta final, dou por mim a pensar que foram das mais agradáveis que tive nos últimos tempos. Sem longas deslocações (que o viajante ainda vai recuperando baterias), sem grandes exuberâncias, com as pessoas que comigo querem estar e com quem quero estar. Pelo meio, o degustar de boas refeições em paz, longas caminhadas na praia, por locais onde as pegadas são inexistentes, e as vozes se remetem ao silêncio enquanto a alma, essa se completa no nada...e um trabalho profícuo para dar corpo à vontade de retornar a atividades que em mim despertam uma profunda paz, pela forma como as amo e como me definem...um retorno que comecei a sentir e a desejar com muita intensidade, após um episódio intenso em termos de saúde, vivido ainda no Brasil.

E foi assim que a escrita voltou a ser uma companhia próxima, agora também aberta a temas e formatos que pouco ou nada ainda havia tentado...igualmente, vou-me iniciando nos podcasts, um tipo de expressão cuja descoberta me vai dando muito prazer, por entre uma limitação inicial de recursos e os takes falhados em cada episódio. Cada um deles possui um texto escrito, e posteriormente gravado, e ambos não se afiguram tão fáceis quanto possa parecer à primeira vista. O texto exige um maior equilíbrio entre a síntese e a minha forma natural, mais reflexiva de escrever, o que por agora não tem sido um exercício nada fácil. E a gravação coloca-me perante desafios muito divertidos, sendo um trabalho tanto de paciência como de aprendizagem (até para potenciar os poucos recursos). Ainda assim, faz-me feliz o facto de ainda sentir em mim um gosto em seguir caminhos e posturas diferentes das tendências vigentes, o que sinceramente já duvidava um pouco...nunca me revi na esmagadora maioria dos podcasts que ouvi, e assumo essa diferença no pressuposto de achar que uma mensagem não necessita de ser coreografada como um espetáculo de variedades para ser transmitida e entendida de forma eficiente. Não digo que a minha já o seja. Mas um caminho, qualquer que seja, tem a particularidade de se ir fazendo...caminhando...aprendendo passo a passo, sabendo evoluir com as lições dos erros encontrados. Por fim, regressar à fotografia é voltar a casa, trazido por uma paixão intensa, cheia de partidas e regressos, quase que assumindo uma dimensão de tragédia romântica...é voltar a uma forma muito particular de diálogo interior, imerso no silêncio com que a alma observa o mundo, e nele se dissolve numa paz que se traduz na forma quase orgânica com que se trabalha com uma máquina fotográfica (algo que não se consegue com um telemóvel), e se caminha pelo mundo que nos rodeia, movimentando-me de forma leve, mais lenta e profunda...o trabalho por agora tem sido mais de edição de material já existente, e há muito parado, mas o chamamento é forte, irresistível...

Naquela noite em S. Paulo, quando nada mais do que o silêncio habitava a cidade, e quando parecia que a cabeça, e um dos olhos, iam rebentar, sentei-me na cama e, pela primeira vez em algum tempo, e pensei na vida. Entre o que temos e o que julgamos ter, tudo fica difuso face à incerteza do momento. Nessa altura o tempo encurta...e muito, perante uma inevitabilidade que se sente eminente. Senti o mesmo quando há cerca de ano e meio tive o acidente de carro, apenas me lembrando daqueles últimos segundos, que se pareciam esvair rumo a algo inevitável...são esses segundos que nos dão a perceção da caminhada do nosso viver...ao contrário do senso comum, nenhum acontecimento, de forma automática, transmite-nos todas as lições que precisamos. Por entre as experiências vividas, subimos uma escada apenas nossa, nas inúmeras formas como ela se transforma e molda as experiências que vivemos na busca do equilíbrio, do desígnio que desejamos no nosso viver, nunca nos abandonando pelos diversos caminhos trilhados.

Deutschland

Bandeira-da-Alemanha-2000pxAcabei agora de trabalhar. Ao ligar a televisão, apenas o tom dos jornalistas parecia deixar antever que algo de fantástico tinha acontecido. Fiquei assim a saber que a Alemanha tinha sido eliminada do Mundial de Futebol, que em Berlim era a tristeza que passeava pelas ruas numa (talvez) solarenga tarde, e que existia um certo tom de contentamento geral dos homens que habitualmente relatam estas coisas da bola. Não é, de facto, coisa que consiga perceber muito bem.

Toda esta reação em torno do gigante caído retrata um pouco de nós mesmos...na rotina dos dias, vivemos uma tão intensa quanto relativa (ou ausente) positividade que se respira no que de artificial nos rodeia, alimentando todo um conjunto de objetivos em que nunca pensámos, mas que com toda a certeza vamos conseguir atingir se muito trabalharmos, abdicando dessa "entidade negra" chamada zona de conforto (aquela a que por vezes temos tanta necessidade de voltar, para sarar as nossas feridas), para transcendermos o estado presente das nossas vidas...as fórmulas rodeiam-nos, e os resultados da sua aplicação multiplicam-se em ainda mais fórmulas, num caminho de nenhures, rumo ao sucesso...também aí reside uma parte importante das mecânicas nacionalistas que vão emergindo no nosso tempo, e que nada mais são do que o apoderar por parte de alguém destas dinâmicas coletivas, algumas vezes aplicando-lhes um símbolo. Mas a isso voltarei outro dia.

Neste processo mental de luta permanente, algures entre David e Golias, em cujo triunfo do underdog é considerado ao nível pessoal, vamos esquecendo como se erra, e como refletir nesses erros...esquecemos igualmente de como a vida nos brinda com a sua ciclicidade, que nos banha nas ondas de um mar interior que gostamos de ver ilustrado no silêncio da praia. Saber observar esse além, na natureza que nos rodeia e na humanidade que nela desponta, é o que nos faz evoluir, sonhar, pensar e amar um mundo melhor...sempre renovando-se, e levando-nos com ele.

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[caption id="attachment_695" align="alignnone" width="721"]How to Be Fearless 7 Tips for Inner Peace Crédito: Desconhecido. Solicito informação.[/caption]

Não gosto de saudosismos. Nunca gostei, e da vivência no passado apenas guardo a memória de não evoluir. Gosto, contudo, de falar do passado, porque dessa viagem nascem grandes lições para o caminho, de como o pé sabe acariciar o chão, lançando o próximo passo no universo.

Mas hoje, mais um aniversário passou. Mais um dia, mais um passo. Mais um silêncio encontrado nos horizontes que nele se abrem...presente que se recusa tornar passado, que insiste em tornar-se futuro.

És feito de um tempo que se renova, senhor de um futuro que apenas no teu silêncio constróis.

Tu, a ti mesmo pertences. 

Regresso

[caption id="attachment_688" align="alignnone" width="1080"]34691012_2016658405250180_458745435410923520_o Crédito: Paulo Heleno[/caption]

Já com as malas em preparação para o retorno a Portugal, é altura de fazer um balanço. Nunca o viajante encara tristeza o voltar, mas também nunca parte sem fechar um pouco os olhos e sentir não apenas o que viveu, mas o que cresceu, e o que leva de novo para o seu ponto de partida.

Agradeço a forma como fui tratado no Brasil. Desde o diretor de empresa, até ao rapaz que tratava da minha roupa (um de muitos empregos que tem para ganhar a vida), todos me trataram de forma muito amável...não acho que, como algumas pessoas dizem, o povo brasileiro nos recebe com desconfiança...talvez assim o faça para quem para eles olha, e para a sua peculiar, e muito liberta forma de viver; um pouco por cima. Eu apenas recebi simpatia, excelentes experiências de diálogo sobre muitas temáticas mais ou menos profundas e, mais uma vez, tudo o que de fantástico a fantástica cidade tem para oferecer. Fiquei fã. Hei-de voltar.

Seja do ponto de vista profissional, seja do ponto de vista pessoal, estes (em conjunto) quase 5 meses foram marcantes. Em ambas as vertentes, ideias surgiram, decisões foram tomadas, novos caminhos foram definidos. Nas duas vertentes, o tempo ditará a forma delas se expressarem na minha vida, de uma forma natural, como quando surgiram na minha alma e na minha mente. De nada vale ficarmos sentados a pensar, deixando horas a fio passarem no silêncio de um tempo que, preso num espaço de uma divisão, se arrasta na vida...mais vale abrirmos os braços à experiência de viver, e sentir o vento passar por nós ao ritmo da liberdade do sentir...

Num mundo de pressas, confesso que desta vez sinto alguma ansiedade para o retorno, que já se vem manifestando há uma semana e pouco. Na bruma da minha vida profissional, já desponta Inglaterra, para onde me dirigirei um par de dias, dentro de aproximadamente uma semana/ uma semana e meia. Mas para já, é aproveitar o meu espaço, aquele espaço que faz de todos nós viajantes.

Vida...

Que colorido encontras no teu Ser? Na preocupação do momento que, na medida que de ti se afasta, tão permanentemente buscas...quanto carregas do pó seco de quem te rodeia? A vida traz consigo apenas um foco. Viver. Viver traz consigo um único caminho. Ser feliz. Essa unicidade do presente, do agora, define um trilho sem partidas ou chegadas...intemporal, apenas definido pelos teus passos, pleno da felicidade que te eleva para lá da transumância da vida...

Se fores o que sentires, sentirás o que serás.