Para aqueles que abdicam da praia, por estar nublado...
Ao caminhar pelo areal, num dia em que o cinzento escuro das nuvens por vezes se recorta em pedaços de céu azul, reparem em como a cor do mar muda, de um prateado intenso, para um azul esverdeado que se apresenta tão vivido quanto mais intensa for a luz. É algo para se ir apreciando pela caminhada, por entre a luz do que nos rodeia e, por vezes as nossas sombras.
Vale a pena ver como a natureza, nos momentos que pensamos menos oportunos ou agradáveis, se revela um tão fiel espelho de nós.PS - Deixe o telemóvel junto dos seus. Desfrute o momento.
Há sempre no espaço, uma relatividade nas emoções...da Tailândia veio o calor humano que me enterneceu o coração. Da minha rua, um ameaço de incêndio no meu prédio fez-me vacilar de receio. Pelo meio, o tempo perde o sentido e tudo se mistura na humanidade de sermos seres que sempre caminharam, e caminham, num mundo fluído, por entre o dia ou a noite, a alegria ou a tristeza, a lágrima ou o riso. Um Yin Yan eterno em nós se movimenta em equilíbrio, apesar de muitas vezes cedermos um pouco mais ao lado pesado da energia que nos rodeia.
Mas ainda assim, no final do dia, quando o trabalho se esvai na última luminosidade de um verão envergonhado, o efeito do pequeno susto se vai perdendo, e a a saúde do momento já vai pedindo férias, é mesmo da Tailândia que vem um pensamento de paz, na certeza que todas aquelas crianças, e o seu treinador, já se encontram abraçados pela luz do dia...e assim deito a cabeça, respirando bem fundo, e deixando a alma esboçar-me um pequeno sorriso na face. Talvez fosse mais fácil carregar já o amanhã com uma qualquer carga negativa, de um qualquer assunto complicado. Mas hoje, só por hoje, tudo se resolveu, e no momento, neste momento, sorrio e tenho esperança dentro de mim. Uma esperança que vai bem fundo, bem para lá das rotinas dos dias...mais do que me fazer sentir bem, fez-me acreditar em todos nós...na humanidade, em mim, em ti. Num mundo melhor. Porque simplesmente não faz sentido sentir-me bem, sem acreditar, e trabalhar, para todos e com todos, para um mundo melhor. Por entre a rotina dos dias. Na via do Caminho do Meio. No horizonte das dez mil coisas.
E muito obrigado a todos pelas vossas mensagens. Foi apenas o susto, tudo está bem :)
Sou um espetador atento do Curso de Cultura Geral, da Anabela Mota Ribeiro, e mantenho o seu blog como um dos seguidos aqui no Omnia. Numa das minhas noites semanais de catarse da rotina dos dias, decidi aceitar o desafio dos 10 itens marcantes, na esfera pessoal, da minha relação com a cultura. Com as minhas desculpas à Anabela por me intrometer nestes desafios semanais que tanto aprecio ouvir, e que me fazem renascer num aconchegante e terno sentimento interior de caminhada, perpétua no silêncio da alma...assim, sem nenhuma ordem de importância em particular:
A minha viagem aos Pirinéus. Durante cerca de duas semanas, viver cores que nunca vi tão vivas, imersas na profundidade de um silêncio como nunca vivi, em altitudes a que nunca subi. Conhecendo ainda pessoas e culturas (nomeadamente a basca) de uma forma tão vivida.
Ler Norwegian Wood, de Haruki Murakami. De vivenciar num livro tantas dinâmicas interiores já sentidas, de sentir, não orgulho, mas paz, e uma profunda gratidão, de já ter vivido algo tão puro, e ao mesmo tempo tão distante.
Ter participado nas manifestações estudantis dos anos 90. Deixei nessa época parte de uma vida não destinada a viver, mas nelas encontrei outra vida de muito mais sentido e ativa. Nenhum ideal tem limites, muito menos os da ilusão moderna de que lutamos por ideais.
Ler A Midsummer Night's Dream, de Shakespeare, e de achar que sim, viver pode ser uma experiência mágica...na morte interior renasce sempre uma luz imemorial, que brilha em nós independentemente do que lhe chamamos. Eu gosto de lhe chamar criança.
Conhecer a história da Astronomia, e conhecer o céu noturno. Desde pequeno que não meço o mundo como a comum das pessoas, nem a alma como a dos incomuns imortais. Algures no meio caminho na magia de um universo que se espelha, e renova em mim, em todos.
As caminhadas na praia...daquelas que duram kilometros e que nos levam muitas vezes a locais que apenas julgamos existir longe...por onde as pegadas se apagam da areia e apenas somos o som do mar que nos desvanece em puro pensamento...meditar é isso...é ser som de mar em areias de silêncio.
Fotografar. Sentir o mundo como a visão de um Eu profundo, que se manifesta no preto e branco da essência de viver.
Vivenciar Nighthawks, de Edward Hopper. Num bar unem-se mundos em pessoas que se encontram...sou cada uma delas, sou apenas quem as procura, sou apenas quem as deixou...
Bach, interpretado por Yo-Yo Ma. No final do dia, do que teve de bom e de mau, de perfídia ou de humildade, do apenas vácuo de interesse, ao interesse intenso e pleno, a suite nº1 é sempre a porta que na noite em mim se abre...não consigo pensar em mais nada, quando nela me dissolvo em essência de nada.
Abraçar, viver, sentir o meu Bonsai, e com ele aprender... partilhar com ele o meu mundo, e ser grato por ele caminhar comigo.
[caption id="attachment_59" align="alignnone" width="3024"] Crédito: Paulo Heleno[/caption]
Os primeiros dias de sol do ano trazem consigo um desejo grande dele usufruir. Talvez aliado a um sentir de ano novo, a luz parece refletir-se de forma mais vasta e brilhante por entre o ar frio, despertando-nos na mente uma imagem de dinâmica que nos faz retomar as atividades entretanto suspensas (normalmente por causa da chuva), e sonhar com um verão não tão distante quanto se possa pensar.
Existem, contudo, por entre esta anualmente renovada promessa de luz, dias mais cinzentos. Como o de hoje. Dias onde o frio se esconde por entre as nuvens, e por entre as nuvens surgem períodos de chuva mais ou menos intensa. Confesso que, depois de um dia um pouco difícil como o de ontem, sinto-me atingido por este manto cinzento, o que não é nada normal...não tenho por este tempo um desagrado militante, sendo que muitas vezes me proporciona tardes de excelente leitura ou de desfrute musical, libertando bastante a minha mente para um merecido descanso ao sabor de um chá bem quente.
Mas hoje, ao contrário do meu bonsai, também me sinto um pouco cinzento. Ele, o bonsai, sendo de interior, nunca cede perante a chuva que por vezes o deixo apanhar, e desde que está comigo, já há mais de meio ano, que por entre ocasionais pequenos banhos matinais vai crescendo, tornando-se mais verde na alegria dos rebentos que nascem por entre a maturidade da folhagem que os rodeia...não consigo deixar de pensar, por entre o cinzentismo do dia, que as plantas não esquecem os ritmos naturais e sazonais, tal como nós há muito os esquecemos, e que neles vivem num equilíbrio intemporal de energias díspares que nos erguem e derrubam num ciclo de harmonia natural, sem os limites que aprendemos a nos colocar, longe no passado ou distantes no futuro.
É uma ideia que me devolve o estado habitual, de sentir que o sol sempre brilha por cima das nuvens, as mesmas nuvens que fazem renascer a natureza no mundo, para mais um ano de uma viagem imensa de vida que nos inspira e nos move. Nada é fundamentalmente mau ou bom. Tudo caminha à nossa volta, deixando-nos um pouco mais maduros na nossa caminhada e capazes de ver horizontes cada vez mais distantes no espaço ou cada vez mais profundos em nós. E o chá...bom...esse já está frio...é tempo de fazer mais.