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Omnia in Unum

Omnia in Unum

Deutschland

Bandeira-da-Alemanha-2000pxAcabei agora de trabalhar. Ao ligar a televisão, apenas o tom dos jornalistas parecia deixar antever que algo de fantástico tinha acontecido. Fiquei assim a saber que a Alemanha tinha sido eliminada do Mundial de Futebol, que em Berlim era a tristeza que passeava pelas ruas numa (talvez) solarenga tarde, e que existia um certo tom de contentamento geral dos homens que habitualmente relatam estas coisas da bola. Não é, de facto, coisa que consiga perceber muito bem.

Toda esta reação em torno do gigante caído retrata um pouco de nós mesmos...na rotina dos dias, vivemos uma tão intensa quanto relativa (ou ausente) positividade que se respira no que de artificial nos rodeia, alimentando todo um conjunto de objetivos em que nunca pensámos, mas que com toda a certeza vamos conseguir atingir se muito trabalharmos, abdicando dessa "entidade negra" chamada zona de conforto (aquela a que por vezes temos tanta necessidade de voltar, para sarar as nossas feridas), para transcendermos o estado presente das nossas vidas...as fórmulas rodeiam-nos, e os resultados da sua aplicação multiplicam-se em ainda mais fórmulas, num caminho de nenhures, rumo ao sucesso...também aí reside uma parte importante das mecânicas nacionalistas que vão emergindo no nosso tempo, e que nada mais são do que o apoderar por parte de alguém destas dinâmicas coletivas, algumas vezes aplicando-lhes um símbolo. Mas a isso voltarei outro dia.

Neste processo mental de luta permanente, algures entre David e Golias, em cujo triunfo do underdog é considerado ao nível pessoal, vamos esquecendo como se erra, e como refletir nesses erros...esquecemos igualmente de como a vida nos brinda com a sua ciclicidade, que nos banha nas ondas de um mar interior que gostamos de ver ilustrado no silêncio da praia. Saber observar esse além, na natureza que nos rodeia e na humanidade que nela desponta, é o que nos faz evoluir, sonhar, pensar e amar um mundo melhor...sempre renovando-se, e levando-nos com ele.

Regresso

[caption id="attachment_688" align="alignnone" width="1080"]34691012_2016658405250180_458745435410923520_o Crédito: Paulo Heleno[/caption]

Já com as malas em preparação para o retorno a Portugal, é altura de fazer um balanço. Nunca o viajante encara tristeza o voltar, mas também nunca parte sem fechar um pouco os olhos e sentir não apenas o que viveu, mas o que cresceu, e o que leva de novo para o seu ponto de partida.

Agradeço a forma como fui tratado no Brasil. Desde o diretor de empresa, até ao rapaz que tratava da minha roupa (um de muitos empregos que tem para ganhar a vida), todos me trataram de forma muito amável...não acho que, como algumas pessoas dizem, o povo brasileiro nos recebe com desconfiança...talvez assim o faça para quem para eles olha, e para a sua peculiar, e muito liberta forma de viver; um pouco por cima. Eu apenas recebi simpatia, excelentes experiências de diálogo sobre muitas temáticas mais ou menos profundas e, mais uma vez, tudo o que de fantástico a fantástica cidade tem para oferecer. Fiquei fã. Hei-de voltar.

Seja do ponto de vista profissional, seja do ponto de vista pessoal, estes (em conjunto) quase 5 meses foram marcantes. Em ambas as vertentes, ideias surgiram, decisões foram tomadas, novos caminhos foram definidos. Nas duas vertentes, o tempo ditará a forma delas se expressarem na minha vida, de uma forma natural, como quando surgiram na minha alma e na minha mente. De nada vale ficarmos sentados a pensar, deixando horas a fio passarem no silêncio de um tempo que, preso num espaço de uma divisão, se arrasta na vida...mais vale abrirmos os braços à experiência de viver, e sentir o vento passar por nós ao ritmo da liberdade do sentir...

Num mundo de pressas, confesso que desta vez sinto alguma ansiedade para o retorno, que já se vem manifestando há uma semana e pouco. Na bruma da minha vida profissional, já desponta Inglaterra, para onde me dirigirei um par de dias, dentro de aproximadamente uma semana/ uma semana e meia. Mas para já, é aproveitar o meu espaço, aquele espaço que faz de todos nós viajantes.

Silêncios paulistas

O silêncio em S. Paulo é um bem raro. Anda normalmente acompanhado da noite mas, na zona onde neste momento resido, o fim de semana é igualmente bastante calmo, e quer o começo, quer o final do dia, trazem momentos desse bem tão escasso. E assim, após uma semana bastante intensa, principalmente no seu final, acordei hoje como num estado de realidade suspensa, como se vivendo uma travagem brusca, colocando-me naquele pequeno momento de segundos em que nos perguntamos o que aconteceu. E à medida que descobrimos que hoje não há Ubers para apanhar às 07:15, o dia torna-se subitamente mais belo, mais relaxante...aquele mero segundo vai-se prolongando por boa parte da manhã. Sem grande resistência (diga-se).

Os silêncios paulistas são, de facto, tão intensos quanto a realidade da vida diária. Isso torna a minha vida quotidiana como que um cenário de navegação num mar agitado, em que a adrenalina das ondas dá, ciclicamente, lugar a um repouso que desperta a mente e o espírito, como nunca me acontece em Portugal. A leitura, a música, o simplesmente estar deitado na contemplação de uma mente tão próxima da anulação face ao horizonte do espírito...tudo ganha uma nova dimensão. E as decisões ficam mais nítidas, o que somos é nos temporariamente devolvido, e o que queremos ser, naturalmente acorda.

E olha longe. Muito longe...