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Omnia in Unum

Omnia in Unum

João Semedo

[caption id="attachment_720" align="alignnone" width="800"]800 Crédito: TVI24[/caption]

Não fiquei indiferente ao falecimento de João Semedo. Numa altura em que há um declínio pronunciado na capacidade de pensar a sociedade, e agir na coerência desse pensamento para que nela se estruture um caminho coerente, perder João Semedo é perder um dos mais importantes símbolos portugueses dessa forma de fazer política, focado no mundo, consciente do caminhar...e sobretudo entender que apenas no diálogo encontramos horizontes.

As minhas condolências à família e ao Bloco de Esquerda.

Irracionalidades

[caption id="attachment_697" align="alignnone" width="1024"]Bahrain Grand Prix Qualifying Crédito: Desconhecido. Solicito informação.[/caption]

Todos temos as nossas pequenas irracionalidades. Admito-as pequenas, porque quando se engrandecem no nosso Ser, apenas deturpam um verdadeiro sentido de caminhada, desfigurando-nos face ao essencial. A minha pequena irracionalidade é, assim, a Fórmula 1, um desporto que acompanho desde 1982, e pelo qual sempre senti (e sinto) uma profunda atração. Da técnica à tática, da máquina ao homem, da telemetria ao tempo, cada domingo de Grande Prémio se consubstancia num fechar de portas ao que me rodeia, e calmamente relaxar em toda a dimensão destas provas, submergindo na emoção e na razão, na análise e no sentir, sempre acompanhando a "minha" Ferrari, cuja história me encanta e, até certo ponto, me move. Continua a ser uma das mais incríveis histórias do desporto automóvel, ainda mágica, num mundo empresarial e de gestão cada vez mais cinzento. Também aqui a Fórmula 1, apesar das dificuldades e das políticas, emerge como verdadeiramente moderna e inovadora, também me encantando por isso, assim como todo o desporto automóvel de ponta.

E foi assim que no domingo, assisti de forma muito especial ao Grande Prémio do Bahrein...que prova incrível de Sebastian Vettel e da "minha" Ferrari. Quase 40 voltas com pneus macios não é, em termos de estratégia e de desempenho, para todos desenharem e interpretarem. Nestas coisas igualmente se desenha o limite, que também me atrai especialnente no desporto automóvel. Mas, porque o erro faz parte da vida, e mesmo as organizações mais excelsas são, na verdade, compostas por humanos, fica o erro da "minha" Ferrari no pit lane, custando uma grave fratura a um dos mecânicos. Uma desatenção que, a este nível, sempre se paga caro e que, a este nível, com toda a certeza será profundamente analisada até à exaustão.

Quase não senti o tempo passar, de tão devagar que passou...Forza Rossa, I grandi campioni non muoiono mai!

Lula

[caption id="attachment_668" align="alignnone" width="2000"]E103013-F00001-F022-2000x0 Crédito: Ricardo Stuckert[/caption]

De Portugal diziam-me (ao ver as imagens de Lula em S. Bernardo do Campo) que, nos próximos dias, talvez fosse melhor ficar no flat. Comprar alguma comida, não ir à rua, e trabalhar aqui a partir do meu pequeno mundo paulista. Confesso que nunca senti essa necessidade...S. Paulo, em si, estava, e está calma. Sendo um reduto forte anti-PT, todas as pessoas com que falava apenas viam uma saída: a invasão do edíficio do Sindicato dos Metalúrgicos pela Polícia Federal, para executar o mandato de Sérgio Moro. Mas, na prática, a vida continuava calma, e mesmo que em alguns pontos surgissem manifestações, esta zona decididamente não seria uma delas. É certo que o tema povoava as conversas, mas, nas ruas, estas eram apenas povoadas pelas pessoas que dia após dia vão vivendo ou sobrevivendo, num país que realmente é muito sui generis politicamente. Não me senti (e não me sinto) inseguro.

Ainda assim, estímulos não faltariam para algum fenómeno mais generalizado. Um pouco movidos por alguns acontecimentos mais infelizes de violência pontual, mais fora da Grande São Paulo, alguns canais (como a Band) basicamente crucificaram Lula e o PT, de uma forma que não estamos de todo habituados em Portugal, um país onde as tendências políticas da comunicação social começam agora a estar ainda mais bem definidas. Dir-se-ia que, num país como o Brasil, a agressividade da mensagem quase que deixava a entrever um certo fomentar de maiores movimentações, de consequências indefinidas. Um discurso muito polarizado que, ainda assim, não passou de catalisador de discussões de almoço ou de café da manhã. Talvez porque se sentia (e sente) aqui em S.Paulo que só existiria uma solução para este problema, e ela seria inevitável. Mas é também nestas situações que se sente o estrago que este discurso polarizado provoca quando prolongado no tempo numa sociedade sem esperança...sim, a Polícia Federal deveria invadir o edifício, independentemente das pessoas que tombassem nessa operação. E esse ressentimento também se sentia nas conversas de almoço e de café da manhã...E é esse ressentimento silencioso e prolongado, despertando de forma quase convulsiva numa qualquer rutura do tempo que preocupa. Estes dois dias, ele não surgiu. Mas no futuro, o ambiente existe para que ele possa surgir.

Quando escrevo este post, Lula já se entregou, e a Polícia Federal, embora com algumas dificuldades em sair do edifício, conseguiu retirá-lo. Nada de muito inesperado, com algumas grades a serem arremessadas por entre palavras mais violentas, sentidas, exaltadas. Não condeno as pessoas que estiveram em S. Bernardo do Campo para o defender...não cabendo a mim a decisão sobre se Lula é ou não culpado, reconheço que, durante o seu mandato presidencial, todas aquelas pessoas sentiram verdadeiramente uma esperança. No cenário contrário, muitas pessoas o acusam de apenas ter virado ao contrário o sinal da velha política brasileiras de interesses, o que causa muitos sentimentos negativos nos conjuntos políticos nos antípodas do PT...não me cabe a mim decidir...será, contudo, este Brasil extraordinariamente polarizado que irá às urnas em Outubro, apenas com a única certeza de que nenhum dos nomes em presença reúne um capital de confiança capaz de mobilizar o país no rumo da mudança desejada. Por entre táxis e Ubers, oiço que uma das soluções seria o exército tomar o poder, apenas para fazer uma limpeza nas instituições, permitindo surgir esse nome. Por agora, não me parece que o exército esteja unido em torno desta ideia, até pelo passado histórico que protagonizou (ao contrário da sociedade portuguesa, a História aqui ainda é algo que é valorizado). Veremos o que nos traz este futuro a este país do qual genuinamente gosto, onde me sinto bem e onde sou respeitado, e onde, apesar de tudo, na esperança tão típica deste povo, se respira futuro.

Soc.Dem

[caption id="attachment_713" align="alignnone" width="700"]24017629_770x433_acf_cropped Crédito: Observador[/caption]

Existe em Portugal uma forma muito latina de se olhar a política. Mas, mais do que isso, existem ainda algumas feridas que após cerca de 44 anos ainda se mantêm injustificadamente abertas, reforçando a visão mais baseada no combate puro vitória/derrota, em detrimento da construção de pontes que permitiriam a definição de uma visão mais moderna do pretendido para o país. É algo que exige estudo, análise e reflexão conjuntos (começando inevitavelmente dentro dos próprios partidos), pois cada vez são mais complexas e dinâmicas as variáveis que definem não apenas as vidas pessoais, mas a nossa caminhada enquanto país.

Sempre fui um Social Democrata. E continuo orgulhosamente a ser, embora ciente de que a Social Democracia enfrenta novos desafios, decorrentes do fim da era das ideias e ideais desenhados em regra e esquadro. Nesse sentido, estamos perante uma reflexão que apela a um voltar às raízes da própria Social Democracia, à sua diversidade, transversalidade no tecido sócio-económico e capacidade de geração de pensamento crítico orientado a um fim, compreendendo que mais que os ideais (ainda com o seu peso), é a realidade prática das novas abordagens económicas, sociais, tecnológicas ou ambientais que deve ser a base de uma nova fundamentação da ação política. Não alinho na opinião de que os partidos tradicionais estão mortos, mas estão a bibernar numa sequência de ciclos intermináveis de alcance limitado e fechado. As suas portas devem-se abrir, os seus membros devem olhar e analisar o que os rodeia, as suas salas devem-se encher de verdadeiro espírito de missão, alicerçado na visão global de um mundo que mais do que pular e avançar, parece ter uma mecânica infantil de querer ignorar os desafios dos rumos que toma. É essencial trazer esse mundo, em diversas escalas, para dentro das sedes partidárias, deixando que que ele seja um motor de vontades e de novos caminhos, pelo trabalho de todos.

Não tenho, como é óbvio, o dom da clarividência para fazer julgamentos prematuros de Rui Rio, ou elogios sobre o que ainda não aconteceu. Mas para já, revi-me no discurso de encerramento do 37º Congresso do PSD. Para além de me sentir alinhado com as linhas políticas gerais que orientarão o partido nos próximos tempos (parecendo-me recolocar o partido num posicionamento que lhe é mais natural), senti igualmente uma vontade explícita de abrir o partido e atualizar as suas práticas, dentro do que deve ser a sua  intervenção nas áreas onde está inserido. É algo que, como militante de base, me agrada, embora reconhecendo que tal mudança não acontecerá já amanhã, ou depois...o segredo do sucesso da revitalização de qualquer estrutura organizacional reside na gestão entre a mudança efetiva e o timing da mesma, existindo entre as duas fases todo um trabalho de reflexão e planificação. Essencialmente, penso ser este o caminho que pode permitir alcançar a mudança de paradigma no meu, e em todos os partidos, numa aposta que vale a pena. O tempo (e as pessoas) dirão de sua justiça sobre o esforço e o resultado desta mudança.

  

Adolfo

[caption id="attachment_725" align="alignnone" width="800"]800 (1) Crédito: TVI24[/caption]

Elogiado por uns, criticado por outros...

Acho que Adolfo Mesquita Nunes tomou uma decisão corajosa. A tomada de posição publica de afirmação de homosexualidade é sempre algo que provoca reações algo primárias, características num país onde a opinião pública se confunde com as necessidades de afirmação de cada um na rede social da sua preferência, num confronto de posições extremas que apenas serve o cultivo desses próprios extremismos. Para além disso, não é um posicionamento perante a vida bem visto numa certa ala conservadora da política e da sociedade portuguesas, onde com toda a certeza se movimentará. Mas a comunidade é, em sim mesma, a soma das suas individualidades, com a coragem de assumir formas de vida, viver por elas, sofrer por elas, pagar por elas, por vezes até morrer por elas.

É assim uma decisão que, na sequência de outras anteriores, e prevendo algumas que se seguirão, contribui para um caminho de maior maturidade desse todo chamado sociedade, fazendo lentamente cair tabus e preconceitos, fazendo pensar sobre a afirmação da pessoa de uma forma cada vez mais liberta (e, seria bom, na hipocrisia muitas vezes existente entre o dito e o sentido), aceitando todos dentro da sua individualidade e no direito de cada um ser e viver o seu caminho de felicidade, no respeito por si mesmo e pelos outros.