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Omnia in Unum

Omnia in Unum

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[caption id="attachment_695" align="alignnone" width="721"]How to Be Fearless 7 Tips for Inner Peace Crédito: Desconhecido. Solicito informação.[/caption]

Não gosto de saudosismos. Nunca gostei, e da vivência no passado apenas guardo a memória de não evoluir. Gosto, contudo, de falar do passado, porque dessa viagem nascem grandes lições para o caminho, de como o pé sabe acariciar o chão, lançando o próximo passo no universo.

Mas hoje, mais um aniversário passou. Mais um dia, mais um passo. Mais um silêncio encontrado nos horizontes que nele se abrem...presente que se recusa tornar passado, que insiste em tornar-se futuro.

És feito de um tempo que se renova, senhor de um futuro que apenas no teu silêncio constróis.

Tu, a ti mesmo pertences. 

Remate ao lado

[caption id="attachment_674" align="alignnone" width="2000"]cropped-fut Crédito: Fondos7[/caption]

Esta foi, definitivamente, uma semana dedicada ao futebol. Desesperadamente dedicada. Por entre os dias foram desfilando as buscas, as suspeições, os programas de comentário vazio ou as colunas de opinião ausente, no perpetuar de uma oportunidade...por entre a imagem e a fama daqueles que são o poder instituído neste desporto, surgem aqueles que também nesse desporto observam o timing da oportunidade de se instituírem, de se mostrarem como a imagem de um novo poder (e associada influência emergentes) por entre a oportunidade criada pela expressão das massas de que algo pode, e deve mudar no futebol.

Não sou apreciador de futebol. Já fui, já vibrei, já sofri...mas a partir de uma certa fase da minha vida decidi colocar de lado (num processo ainda contínuo no tempo presente) o que de acessório nela residia como uma falsa sensação de conforto...pertencer a um clube, a uma tribo, a um conjunto de pessoas com desejos e ambições comuns, faz nascer nas pessoas uma sensação de conforto, de objetivos a perseguir sem serem por eles quase semanalmente cobrados. Assim como o saudosismo encanta e, provisoriamente, liberta das rotinas diárias que nos envolvem numa dinâmica circular de vida, também estes fenómenos de carácter mais tribal, evocando tempos onde a humanidade por instinto procurava vislumbrar caminhos de sobrevivência, inferem sentimentos de união primária, direta, intensa, de uma luta por algo ou alguém, ambos muitas vezes ausentes da vida diária, muitas vezes imersos num conjunto de triunfos e derrotas que se sucedem a um ritmo mais rápido do que se pode tolerar...

Consubstanciado em centenas de anos de evolução, onde muitas vezes foi encarado com um ambiente de refúgio à parte das dinâmicas da história, o futebol foi cultivando ele próprio o seu lugar à parte na sociedade, criando um poder social e económico cada vez maior, que se foi transpondo para o poder político e, muitas vezes, para o poder judicial (já não falando no albergar sobre o seu seio de grupos e situações de legalidade muito questionável), sendo que todo este fenómeno é circularmente, e de forma consentida, alimentado e ampliado por novas realidades emergentes de cada era, que perpetuam este movimento. Tudo tolerado pela crescente necessidade popular de sustentar este poder a que verdadeiramente não pertence, mas que sem dúvida o mantém. A saudável irracionalidade vivida dentro de um estádio de futebol passa para fora dele, prolongando-se para dentro da semana, sentindo-se seja no ambiente familiar, profissional ou social, nunca deixando de estar ausente nos tempos de repouso e convívio familiar ou social, nas conversas com os colegas, no tempo que passamos no trânsito...tudo alimentado por uma dinâmica comunicacional agressiva e por vezes hipócrita, principalmente no que toca ás televisões, que associam o mea culpa do seu papel em termos deste cenário à alimentação do mesmo. Não nos esquecemos, no meio de todo este redemoinho, no papel que o futebol tem na formação dos nossos jovens, sejam eles atletas ou adeptos, e da forma como estes absorvem toda esta cultura de emergência e manipulação do poder por um lado, e de arbitrariedade dos relacionamentos no outro.

No meio de tudo isto, perde-se o que de bom existe no futebol...a tal "irracionalidade de estádio", o convívio salutar entre pessoas que, embora "rivais", partilham o prazer de argumentar e de descomprimir da pressão dos dias, o envolvimento da família...seria na perceção do que se perde em termos do que de bom existe no futebol, que deveria preocupar os adeptos, não apenas do Sport Lisboa e Benfica, Sporting Clube de Portugal, Futebol Clube do Porto ou qualquer grande clube por esse mundo fora; mas igualmente os adeptos dos pequenos clubes...são eles, juntamente com os jogadores, os treinadores e suas equipes, que verdadeiramente movem toda esta indústria que outros tentam levar ao limiar da loucura, afastando-a dessa sua base mais estrutural, ao mesmo tempo que a cativa numa dimensão irracional.

Crédito da Imagem: Desconhecido. Solicito informação / Unknown. Requesting information

Saudosismo

[caption id="attachment_275" align="alignnone" width="2000"]gabriele-diwald-190721-unsplash_2 Crédito: Desconhecido. Solicito informação.[/caption]

Confesso que vejo com alguma estranheza as ondas de saudosismo que amíude invadem os que me rodeiam...não sendo eu pessoa propriamente virada para as recordações, sinto-me por vezes perdido numa dimensão algo intemporal, por entre tanto desejo do regresso de um passado mais ou menos distante, e que traz consigo uma sensação circular, do algo já vivido que desponta por entre algo ainda a viver.

Vejo nisso a afirmação de silêncios modernos que vagueiam em nós sem destino, filhos de uma casa pródiga nunca encontrada. O regresso à infância e adolescência assume-se basicamente como o regresso bucólico a um tempo mais simples, de menos restrições e mais permissões, onde os horizontes renasciam por entre as tristezas volúveis das tempestades primaveris desses tempos. Existiam sonhos, esperanças...acima de tudo, existiam escolhas, que se tornavam maiores e mais abertas quanto mais longe se ousava ver, ou quanto mais se sentia a intensidade do viver. Volta-se, sobretudo, ao único ponto da vida onde muitas vezes se sentiu uma verdadeira felicidade e, mais do que isso, uma verdadeira conexão com uma identidade que muitas vezes, no presente, se sente perdida, algures no caminho.

A submersão nas realidades sócio-económicas diárias reduzem os sonhos, esculpem o tempo por entre a rigidez das rotinas, aprisionam os hábitos nos ditames morais do que deve ser a evolução da pessoa no seu trilho de vida, molda-se o Ser no navegar por entre cortinas de fumo permanentemente mutáveis. Temos a noção de que deixámos de ser exploradores da vida, ousados no que desejamos para a nossa felicidade, para sermos visitantes de pequenos mundos, fabricados fora de nós, e onde a circularidade da existência torna-nos nada mais do que uma gigantesca montra para poderes que não controlamos, mas cuja existência desejamos na vida diária, pois nessa existência, ainda que cénica e virtual, encontra-se um rumo, por vezes há muito perdido.

Ainda assim, assistimos a novas formas de pensar a vida, que não a da resignação ao recordar da vivência do passado. A consciência do que se perdeu começa a ser fundamental no emergir de um novo tecido social, menos fundamentado nos dogmas sociais, e mais no que se deseja buscar da nossa felicidade...consubstancia-se, no geral, no regresso a uma vida mais simples, mais minimalista de ver a nossa caminhada. De formas variadas, mais ou menos dramáticas, assistimos a quebras de laços afetivos, profissionais ou sociais, emergindo novos paradigmas de relacionamento (independentemente do tipo), trabalho ou social, mas igualmente de relacionamento com a humanidade que a todos nos une, e com o planeta que nos acolhe. Em todos esses casos, cada vez mais presentes, podemos também ver um regresso ao que fomos, devolvendo sorrisos, retomando a capacidade de escolher e de definir novos horizontes. É uma renovação mais estrutural da sociedade que, parece-me, é bem mais estimulante, bem mais geradora de desafios para nós e para as gerações futuras, do que induzir uma falsa sensação de felicidade através de uma rotina circular entre o vazio dos dias, e um desejo mais automático do que refletido de ir a uma qualquer festa, embarcar numa qualquer moda revivalista, ou ir a um qualquer ginásio para um reencontro com um passado que não volta.

Torna-se igualmente interessante refletir sobre a estrutura sócio-económica que tendencialmente nasce deste movimento. Da emergência de uma economia mais direta, colaborativa e local à economia circular, passando por reduções nas necessidades de consumo, uma maior consciência ambiental e uma redução das necessidades produtivas em organizações que cada vez mais tenderão a colocar a sustentabilidade do homem e do meio como pilares da sua atuação, é algo a ser analisado com muita atenção, numa reflexão que (apesar de estarmos perante uma tendência de médio/longo prazo) apenas depende da nossa vontade em olhar o futuro a partir do nosso ponto presente, e de não esquecermos o principal objetivo que norteia a caminhada humana. A felicidade.